Um estudo minucioso feito pela Escola
de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em parceria com a
Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) revelou uma
estatística assustadora: o carrapato-de-boi, conhecido cientificamente por
Rhipicephalus (Boophilus) microplus, causa um prejuízo anual de pelo menos US$
216 milhões à bacia leiteira do estado. A cifra – quase R$ 500 milhões pelo
câmbio da última quinta-feira – representa o valor em leite que o rebanho em
Minas deixa de produzir no período de 12 meses por causa do ataque da praga.
O levantamento mostrou que os parasitas causam, em média, uma perda de 90,24
quilos de leite por vaca, durante o período de lactação. São 491 milhões de
quilos de leite que não chegam ao mercado por causa da praga, levando em conta
o rebanho mineiro voltado para a atividade. Como em 2012 o valor médio do litro
foi de US$ 0,44, o prejuízo dos pecuaristas do estado com os carrapatos fica
próximo de US$ 216 milhões, ou cerca de meio bilhão de reais. Os estudos de
todo o país serão unidos e as perdas devem girar algo em torno de R$ 1 bilhão.
Para ser eficaz, controle da praga tem que ser estratégico e sem exageros.
A pesquisa é assinada por dois especialistas em parasitologia veterinária: o
professor Romário Cerqueira Leite, do Departamento de Medicina Veterinária
Preventiva da UFMG, e pelo seu ex-aluno de doutorado Daniel Sobreira Rodrigues,
pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). Esse
estudo e o de outros profissionais espalhados pelo país serão consolidados,
dentro de alguns meses, num único documento, o qual será usado como ferramenta
para sensibilizar o governo a implantar políticas públicas no combate aos
parasitas de bovinos.
Romário Leite e Daniel Rodrigues apuraram que os carrapatos causam, em média,
uma perda de 90,24 quilos de leite, numa única vaca, durante o chamado período
de lactação – a ciência considera que uma vaca produz o alimento durante 305
dias (período de lactação) e “descansa” os demais 60 dias do ano.
“Multiplicando-se os 90,24 quilos de leite perdidos por uma vaca pelo número
total de animais em produção no estado, que somam 5,447 milhões de cabeças,
temos a perda, que é de 491 milhões de quilos de leite. Levando-se em conta que
cada litro custou em média, durante 2012, cerca de US$ 0,44, significa dizer
que o prejuízo dos pecuaristas é de US$ 216 milhões”, esclarece o professor.
O mesmo estudo está sendo feito em nível nacional. Em todo o país, segundo
estatística oficial, há 23,2 milhões de vacas em produção. Dessa forma, os
fazendeiros brasileiros deixam de vender o equivalente a US$ 921 milhões em
leite. É bom lembrar que os carrapatos também causam outros prejuízos, como
lembra o médico-veterinário Renato Andreotti, da unidade Gado de Corte da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa): “O parasita danifica a
carne, o couro… Provoca dor e estresse no gado”.
Corte
na carne
Em abril, durante o primeiro Simpósio Internacional sobre Controle de
Carrapatos e Doenças Transmitidas por Carrapatos, promovido em Campo Grande
(MS), foi estimado que, somente nos estados do Sul do país, esses parasitas
causam uma perda de 1,72 bilhão de quilos de carne. Isso, esclarece o professor
da UFMG, considerando que o rebanho daquela região é de 42,5 milhões de cabeças
e que a perda média provocada pelo carrapato é de 1,18 grama por dia num
animal.
Como cada quilo da carne bovina é avaliado, em média, em US$ 1,62, os
pesquisadores concluíram que a perda financeira causada por carrapatos no gado
de corte do Sul do Brasil é de US$ 2,787 bilhões. É importante dizer que a
maioria do rebanho daquela região tem origem europeia, cujas raças são mais
sensíveis aos ataques de carrapatos. Fonte: Estado de Minas